Tua cor é o que eles olham: velha
Relutei em voltar a falar de política partidária aqui neste espaço, mas diante dos absurdos, dos impropérios que tenho ouvido, é impossível me resignar ao silêncio.
Para dar título a essas mal traçadas linhas, me aproprio de frase da mais que nunca emblemática canção de Beto Guedes, Feira moderna, em que ele diz: tua cor é o que eles olham, velha.
Velhos são esses conceitos, que muito mais que preconceitos, flertam com a insanidade, como esse da tal pastora evangélica, Damares Alves, guindada a ministra.
Damares, cercada por fieis seguidores e como se estivesse em um culto, brada para a nação, em seu discurso de posse, que meninos vestem azul e meninas rosa.
Provavelmente ela deve ter sido admoestada por alguém com alguma lucidez e no dia seguinte quis justificar o injustificável, dizendo que se utilizou de uma metáfora.
Antes não fosse. Ao ouvir os descalabros da fundamentalista evangélica, comentei com minha mulher que o buraco era muito mais embaixo, que o simples uso das cores e que sim se tratava de uma metáfora, que dizia, de agora em diante, meninos são meninos e meninas são meninas, ou seja, não há a comunidade LGBT, ela como no nazismo, e, embora ainda sem nome, primeiro foi proscrita, depois banida e finalmente exterminada.
Mas o mais assustador é que a declaração da pastora vem sendo defendida por uma parcela da elite branca, que continua de olhos bem fechados e que como diz a canção de Beto Guedes, está velha e não falo da idade, mas de seus conceitos retrógrados, próprios da Idade Média.
Volto à canção de Guedes, quando ela também diz: teu sorriso é o que eles temem – medo.
É o medo do novo, do diferente. Triste sina desses infelizes para que quem celebra a diferença incorre em pecado, Marx tinha razão.
Vou mais longe e ao olhar mais longe fico ainda mais indignado, quando vejo pessoas, que acredito ter a capacidade de apresentar seus próprios argumentos, compartilhando nas redes sociais verdadeiros absurdos crivados de falácias e de um suposto nacionalismo digno de Hitler e Mussolini.
Vitrola
Tenho ouvido repetidas vezes as canções da banda goiana Vanguart, cujos belos vocais lembram um pouco o Belle & Sebastian. As letras são de uma temática quase juvenil, são poéticas e recheadas de lirismo e que como tal nos enviam diretamente para os dourados anos de nossa juventude.
Também tenho ouvido as belas canções de Daniel Chaudon, Cesar Lacerda, Marcelo Jeneci e Rodrigo Amarante, o que tem me levado a crer que ainda há vida inteligente na música brasileira. Não diria a nova música brasileira, pois alguns dos mencionados estão na estrada já há quase duas décadas.
Recomendo ainda o novo disco de José James. Intitulado Lean on me, uma bonita homenagem a Bill Whiters.
Encerrando a sessão Vitrola dessa semana. Sugiro finalmente o disco Aria, do bandoneonista argentino, Richard Galliano, que já havia produzido dois belíssimos trabalhos anteriores com o baixista, Ron Carter, e com o trompetista, Paolo Fresu.
Tipografia
Estou dissecando a obra do cubano Leonardo Padura. Comecei com suas Estações Havana, nas quais ele criou o investigador Mario Conde, que atormentado pelo seu desejo de ser escritor, sonha em abandonar a polícia e partir para as letras.
Devo começar a ler nos próximos dias seu, O homem que amava os cachorros. O livro nos mostra um pouco, ou muito da faceta do catalão Ramon Mercader, que foi o assassino de Leon Trotski, no México, a mando de Stalin. Mercader, teria vivido seus últimos dias, em Cuba e Padura se utiliza dessas informações para compor uma história que mistura realidade com ficção.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, o mais recente livro de Padura, A transparência do tempo, é um dos melhores do autor.
Antologia
Sem dúvida comporá a antologia dos melhores shows já apresentados por estas plagas, o de Erasmo Carlos, cujo nome, é Amor é isso, música que titula seu novo disco, repleto de belas canções, com especial destaque para Convite para nascer de novo.
O Tremendão, do alto de seus 77 anos, está em grande forma e produziu um disco memorável. O show será dia 1º de fevereiro, no Clube Concórdia e ainda restam algumas mesas.
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