Uma amizade de quase 40 anos
Em 1975 ao viajar para Curitiba, consegui uma carona com Gilberto Brittes, que era amigo de minha tia Lulu. Eu ainda não o conhecia pessoalmente e esse foi nosso primeiro contato. Foi uma viagem agradável, pontilhada pela nossa recíproca paixão pelo Fluminense, Coritiba e simpatia pelo Palmeiras. Chegamos atá a fazer planos para abrir uma loja de discos, o que acabou não se concretizando. Cinco anos depois, ou seja, em 1980, Gil, já prefeito de União da Vitória, me convidaria para ser seu assessor de imprensa e posteriormente, o responsável pelos assuntos culturais do município.
Certa tarde Gil mandou me chamar em seu gabinete, lá estavam o então Secretário de Estado da Cultura, Luiz Roberto Soares e o Diretor da FAFI, Almir Rosa.
Gil, rapidamente, me expôs que Luiz Roberto incluiria, efetivamente, União da Vitória no calendário cultural do estado e que dessa forma receberíamos shows, peças de teatro, exposições, eventos literário entre outros e que caberia a mim não só a divulgação, mas a organização de tudo isso. Como já gostava muito de arte e era o presidente do primeiro Cine Clube da cidade e que funcionava na FAFI, com o apoio de Almir, aceitei a incumbência e conseguimos trazer para a cidade artistas de renome nacional, como Luis Melodia, já na época um dos principais nomes da MPB, o violonista, Sebastião Tapajós, a cantora Doris Monteiro, o grupo vocálico Viva Voz, o cineasta, cantor e compositor, Sérgio Ricardo, os fundadores da Bossa Nova, Carlos Lyra e Billy Blanco, o trombonista Raulzinho de Souza, que logo após tocar aqui, passaria a viver em Nova York, onde se consagraria como um dos maiores trombonistas do jazz mundial, entre tantos outros. Que aqui estiveram. A cidade começava a vive um momento de efervescência cultural, graças a visão de Luiz Roberto, à boa vontade de Gil e Almir e à minha inarredável disposição,impulsionada por meus 21 anos.
Gil era um homem sensível, gostava de música, de cinema, de teatro e de ler e ambos gostavamaos de Paulo Francis, tanto que ele em uma de suas viagens a Brasilia, me trouxe o então mais recente livro de Francis, O afeto que se encerra, que tenho até hoje. Em 1982, a ditadura militar, já em seus estertores, mas ainda no afã de se perpetuar no poder, criaria o chamado voto vinculado, que consistia em obrigar o eleitor a votar nos candidatos do mesmo partido, de vereador a governador, tentando com isso, municipalizar as eleições e evitar o avanço da oposição que crescia de forma monumental. Infeliz idéia dos ideólogos da ditadura. O efeito foi justamente ao contrário, as eleições se estadualizaram e nomes como o de José Richa, em franca ascensão popular catapultou ilustres desconhecidos, alguns dos quais, se elegeriam uma única vez e voltaram para o ostracismo. Nessa eleição eu fui candidato a vereador, Almir a prefeito e Gil a deputado estadual. Nenhum de nós se elegeu e vimos naufragar nosso projeto político.
Em 1982 eu havia deixado a Prefeitura e assumido um cargo na Fundação de Saúde Caetano Munhoz da Rocha, indicado que fora por Gil e Luiz Roberto. Lá fiquei 4 anos e 8 meses.
Pedi demissão em janeiro de 1987, após apoiar Alencar Furtado para governador, que perdeu feio para Álvaro Dias do PMDB. Eu sabia que viriam retaliações, não as esperei e fui pra casa, deixando a vida pública.
Em 1988 os principais amigos de Gilberto decidiram lançá-lo candidato a prefeito. No início ele não concordou, mas foi por nós, seu grupo de amigos, convencido. Fui um dos coordenadores de sua campanha, escrevi com ele e com Antônio Alexandre Moreira, seu vice, o programa de governo, cordenei a propaganda eleitoral gratuita, no rádio e ainda achava tempo para acompanhá-lo em viagens a Curitiba, numa das quais fomos encontrar Luiz Roberto que coordeva a campanha de Eneas Faria para a Prefeitura de Curitiba e que nos ajudou com algum material gráfico. Em nosso último encontro com Luiz Roberto, antes dessa eleição, ele nos contou em primeira mão, que Enéas iria desistir e em seu lugar entraria Jaime Lerner e que por sua vez, ganharia as eleições.
Aqui em União da Vitória enfrentaríamos uma eleição dusríssima contra o professor Mário Risemeberg que se aliaria com o PMDB, tendo em sua vice, Fernando Bohrer, que nos derrotariam com sobras.
‘Em agosto de 1989 eu sofreria um acidente de carro, que resultaria na perda total de meu veículo., que não tinha seguro. Eu não fora o culpado, o outro carro atravessou a preferencial e literalmente, destruiu meu Gol. O acidente, como disse, foi em agosto, mas só consegui receber pelos danos em dezembro daquele ano. Como a inflação andava perto dos 80% ao mês, quando recebi, o dinheiro não dava pra comprar mais nada. Foi então que Gil me emprestou sua Saveiro. Fiquei com ela cerca de 90 dias, até que consegui comprar outro carro. Só um grande amigo faria uma coisa dessas.
Em uma fria noite de inverno de 1992, Gil foi me visitar em minha casa. Eu ainda morava na Godofredo Grolmann. Eram umas 8 da noite, qundo soou a campainha. Fui atender e era Gil que perguntou se eu tinha vinho em casa. Respondi que sim e o convidei para entrar. Fomos para a sala, acendi a lareira e ficamos até altas horas conversando. Ele estava visitando os amigos para lançar a candidatura de Airton Roveda à Prefeitura Municipal. Provou por A + B que Roveda era imbatível e que deveria ser nosso candidato.
Dias depois, ainda em uma gelada noite de inverno, ele voltaria à minha casa para irmos falar com Roveda, em seu posto de gasolina no Jangada. Lá fomos nós e Roveda recusou terminantemente. Ele acabaria aceitando concorrer uns 10 dias antes da eleição e venceria com facilidade, confirmando o sábio prognóstico de Gil.
Mas não era só a política que nutria nossa relação de amizade, por mais de 10 anos, nos reunímos toda segunda-feira, para jogar poker. Lembro com clareza que na semana que antecedeu a grande enchente de 1983, o jogo foi em minha casa. Eu morava em um apartamento da família Barbosa, na Avenida Manoel Ribas e lá pelas tantas, saímos na sacada para verificar um estranhíssimo ar quente que assolou a cidade por volta de umas 11 da noite e parecia prenunciar a catástrofe que estava por vir.
Nós nos revezávamos para sediar em nossas casas o jogo semanal e sempre que era em minha casa, Gil me intimava, dizendo: queremos o quibe da Dona Ofir, que ao invés de o comprar pronto, o fazia em casa, passando pela máquina de moer carne, separadamente, o trigo, o hortelã e a pimenta.
Bons tempos, ótimas recordações que mantem acesa a chama de uma bela amizade como a minha com Gilberto Francisco Brittes.
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