Uma de minhas mais caras amigas
O que define uma verdadeira amizade? Intimidade talvez. Mas será, que só ela basta. Creio que não. Cumplicidade? Sem dúvida. Mas apenas ela. Claro que não. Afinidade então? Isso com certeza.
Mas as afinidades se manifestam mais, fortemente, quando ficamos mais íntimos e daí mais cúmplices.
Isso não quer dizer que entre caros amigos não existam diferenças, pontos de vista conflitantes. Elas, as divergências, existem sim, mas são sustentadas por algo tão importante quanto os atributos mencionados anteriormente. Falo de admiração. É ela que faz com que muito mais que respeitarmos diferentes opiniões as admiremos, principalmente, porque elas embora divergentes, possuem argumentos que, se, ainda não são capazes de nos convencer, são dignos de admiração.
Assim é minha relação com uma de minhas mais Caras Amigas, minha filha Mayara, que neste 3 de abril, completou 24 anos de idade.
Nossas afinidades são muitas. Desde o fato de torcermos pelo Fluminense, passando por nossa paixão pela música e pelo cinema. Na música, ambos, detestamos a música sertaneja e no cinema, entre outras afinidades, gostamos muito de Woody Allen e por aí vai.
Quando fazia meu mestrado na Universidade Tuiuti, em 2002, ia toda quinta-feira à Curitiba, uma vez que tinha aula sexta o dia todo. Eu saia daqui às 17 horas, de quinta e ainda dava tempo de pegar a sessão das 21h, nos cinemas do Shopping Curitiba, que ficava próximo de nosso apartamento. Mayara me esperava pronta e só íamos jantar após o cinema. Boas recordações. Mas continuamos vendo muitos filmes juntos, acompanhados também de minha outra filha, Nina Rosa, outra cinéfila de carteirinha. Assim foi até o meio de 2005, quando tive um agravamento de meu problema oftalmológico, que me fez diminuir, consideravelmente, minhas idas ao cinema. Mas quando ainda as faço em Curitiba, tenho sempre a meu lado, Mayara e Nina Rosa.
Quando Mayara estava prestes a concluir sua monografia no curso de Direito, no final de 2007, no 9° período, fui com ela a uma papelaria para encadernar seu trabalho de conclusão de curso.
Como eu vinha embora na manhã seguinte e a encadernação não ficaria pronta na hora, ela me mostrou ali mesmo que sua monografia era a mim dedicada. Não contive as lágrimas e me emociono sempre que me lembro desse momento, como emocionado estou agora que escrevo essa crônica.
No ano passado, no último jogo do campeonato brasileiro, quando o Flu jogou com o Coxa em Curitiba, eu estava lá, mas optamos por não ir ao jogo.
Ouvimos os últimos minutos pelo rádio em casa e ficamos em pé, de mãos dadas em frente ao sistema de som, eu Mayara e Nina, numa corrente. Se a corrente ajudou não sei, de qualquer forma o Flu permaneceu na primeira divisão. Lamentamos, e, muito a queda do Coxa para a segundona, somos os três também torcedores alvi-verdes, embora, primeiramente, sejamos tricolores de coração.
São pequenas grandes coisas que nos aproximam e nos unem em uma relação que muito mais que pai e filha, é de profunda amizade, de compartilhamento de coisas banais e de coisas grandiosas.
As verdadeiras amizades quase sempre trazem consigo alguns riscos, sejam de que ordem for.
Às vezes até mesmo contra nossa integridade física, pois no afã de ajudarmos o amigo, não medimos os riscos. Assim aconteceu comigo, salvo engano, em janeiro de 1999. Passávamos as férias de verão em Bombinhas, na Pousada Cantos das Pedras, que fica no final de Zimbros.
Certa tarde depois de almoçarmos e de algumas cervejas, voltamos para a sombra dos guarda-sóis e depois de descansar um pouco, decidi ir para o mar em um colchão de ar. A tarde estava fantástica e acabei dormindo no dito colchão e me distanciando muito da areia. Como em Zimbros o mar é pra lá de calmo, dormi o sono dos justos e ao acordar, me dei conta de que estava muito longe. Como sou péssimo nadador, fiquei com medo de me mexer, mais bruscamente, e cair do tal colchão. Via na areia minha mulher e minhas filhas acenando com veemência pra eu voltar e eu nem mesmo me arriscava a acenar com medo de cair. Foi quando vi umas das pessoas que me acenavam entrar no mar e começar a nadar em minha direção. Na medida em que ela se aproximava, vi que era minha filha Mayara, então com apenas 12 anos, mas ótima nadadora. Passei a gritar para ela voltar, uma vez que ali era muito fundo. Não adiantou, ela veio até onde eu estava e disse com a maior tranqüilidade do mundo, pai continue aí quietinho que vou tirar você daqui e saiu nadando e me puxando. Não mediu o grau da dificuldade para me resgatar.
Minha pequena filhota, minha salvadora nesse dia e de quem tenho orgulho de ser pai e de tê-la como uma de minhas mais caras amigas.
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