Uma implicação Darwiniana na atualidade
Adaptação ao meio significa tirar proveito dele. Assim como um cavalo adapta-se bem à sua rotina, ou logo é surrado ou substituído por outro mais perspicaz, a concorrência tende a uma horizontalização. É mais adaptado, portanto, aquele que dentre o comum se sobrepõe, sobressai-se em qualidades que permitem melhor resolver os problemas compartilhados. Não é difícil constatar que a adaptação leva, nesse sentido, a um lugar pré-definido, cuja concorrência encarrega-se de manter a direção. Desse modo, melhor adaptado está quem mais se aproxima desse ideal de adaptação. Logo, o mais bem adaptado é necessariamente o mais previsível e portanto o mais comum. Quanto mais comum fô-lo mais bem adaptado, na medida em que sobressai-se como o mais médio na média (maior detentor de qualidades almejadas pela média). Ora, isto seria um raciocínio suicida do ponto de vista silogístico. Não possibilitaria sequer manter uma ideia de evolução, considerando seja ela um processo, dependente assim de inovações. Portanto, o mais bem adaptado atualmente só pode ser o menos adaptado na medida em que foge à média já dependente à técnica, à tecnologia, ao modelo patente, e é tanto menos alienado a ela, tanto menos dela presa. Se adapta melhor à atualidade aquele que não se adapta bem a ela. Ademais, não há tempo pra isso.
A seleção natural não pode sê-la levando em conta a tecnologia. Sem dúvida um macaco teria vantagem ao usar uma pedra para quebrar um coco sobre um que desconhece tal técnica. Porém, os problemas mais fundamentais permanecem essencialmente os mesmos, embora se expandam: a fome, o sexo, a morte. Então a evolução oferece vantagens compartilhadas, e em decorrência delas um emparelhamento objetivo. Essas facilidades implicam o desuso de um saber-fazer, cuja adaptação inerente à sua dependência evidencia uma involução. Quem levaria vantagem numa hipotética situação de emergência onde, por exemplo, faltasse energia? Obviamente o mais adaptado à tecnologia estaria em desvantagem frente àquele acostumado a cozinhar a lenha. Então esta suposta evolução não tem absolutamente nada de natural, mas pelo contrário, implica uma adaptação a uma resolução de problemas que são sempre secundários e que dependem de um certo uso técnico, a despeito daqueles cuja resolução depende de um saber ainda mais valoroso do ponto de vista da vantagem a ser tirada do meio. Obviamente é através do uso da técnica que atualmente se chega à caça, por assim dizer, com maior efetividade. Mas não se trata de um paradoxo, apenas deve-se vislumbrar que a adaptação suposta, no mercado por exemplo, visa uma tutela do mais bem adaptado a quem de fato tira proveito dela. Mais adaptado ainda que aquele que não se adapta bem está aquele que paga a adaptação. Sem qualquer necessidade de deter um saber acerca do fazer, no entanto.
Certamente a exploração do trabalho daquele que detém um saber seleciona aquele que paga tal conta, mas o coloca (quem paga) na posição mais frágil possível do ponto de vista adaptativo. Deter um saber-fazer constitui uma boa adaptação embora não signifique necessariamente evolução, ao passo que evolução significaria estar plenamente desadaptado sob a vantagem de não depender unicamente da fragilidade simbólica que constitui o mercado. Não estar adaptado significa, portanto, ser mais apto.
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