Unidos pela bola I
Fui estudar no Colégio Estadual Túlio de França em 1969, deixando para trás alguns poucos amigos que havia feito no então curso primário do Externato Santa Terezinha, entre os quais Geraldo Sebben, que mais que um amigo conhecido na escola, era meu vizinho na sempre mítica, pra mim, rua Barão do Cerro Azul. Não sei por que cargas d’ água, talvez o psicólogo, primo e amigo, e, também colunista de Caiçara, Daniel Augusto Wood, possa ou saiba explicar, mas sempre tive enorme dificuldade em fazer amigos na escola. Todos os meus amigos de infância eram oriundos da vizinhança. Mas essa é outra história. Eu era um sujeito pra lá de introvertido e, somente, me sentia realmente bem, ou à vontade, nas imediações de onde morava.
Daí a mudança pro Túlio foi algo assim, desastroso, terrível. Não consegui me adaptar, e muito menos estudar. Briguei no primeiro dia de aula com um garoto, que ao me ver chegar no Túlio, com o cabelo muito comprido, me chamou de Vanusa. Não gostei e disse: Vanusa é a tua mãe. Ele gostou menos ainda e na saída da aula acabamos rolando no chão.
Como disse, definitivamente, não me adaptei e reprovei.
Perdi, momentaneamente, o contato com meu amigo do Externato, Geraldo Sebben, que foi estudar em um colégio interno em Ponta Grossa.
Eu desde muito garoto gostava de futebol e antes mesmo de ingressar na escola, já havia aprendido a escrever, ensinado que fui por minha mãe, minhas tias Lulu e Dina e tio René, que me ensinou a escrever Fluminense, daí minha paixão pelo tricolor carioca.
Torcia também pelo Coritiba e em São Paulo não tinha time, mas comecei a admirar o Palmeiras, time de meu amigo Geraldo, e, no começo dos anos 70 a “Academia”, regida pelo maestro Ademir da Guia.
Geraldo vinha nas férias e montamos um campo de futebol em um terreno atrás da casa de minha mãe, de propriedade da empresa Bordin. Ali jogávamos todo santo dia, contra um time de garotos da rua Ipiranga, comandado por Francisco Roberto Moura, o Morinha. Eles nunca ganharam de nós, Geraldo desequilibrava, era craque.
Há uma música de Carlinhos Vergueiro e J Petrolino, chamada Amarcord, que diz: “como esquecer daquele gol que se fez aos 13 anos de idade, não há saudade maior”.
É verdade. Em uma dessas partidas contra o time dos meninos da rua Ipiranga, com o placar já mais ou menos uns 10 a 0 pra nós, com uns 9 gols do Geraldo, o Morinha que jogava na linha, como se dizia na época, resolveu ir pro gol e disse enfático para mim: “Podemos perder de 50 a 0, mas você não faz gol”. Aí o bravo Geraldo fazia tudo, driblava meio mundo e me dava de bandeja e nada de gol. Até que no último segundo do jogo Geraldo foi pela esquerda na linha de fundo e levantou a bola com açúcar. Eu estava de costas e ele gritou vira, vira.
Consegui pensar num átimo de segundo, é agora ou nunca, vai de bicicleta mesmo. E foi um golaço que devo ao mestre da bola e hoje médico, Geraldo Sebben.
Mas nem só de belos gols vive nossa memória futebolística. Entre os meus 13 e 15 anos, passei minhas férias de verão em Santos, no apartamento de uma prima. Ela morava na Avenida Beira Mar em um grande edifício, acho que de três blocos, todos com nomes de flores, sendo o seu o Edifício Orquídea. Atrás dos blocos havia uma grande área de lazer com uma quadra poli esportiva. Certa tarde, depois do tradicional banho de mar, fui lá olhar a garotada jogar futebol. Havia uns garotos muito bons de bola, sendo o melhor deles, o mais habilidoso e rápido um que eles chamavam de Rada. Fiquei lá no alambrado vendo o jogo até seu final. Voltei no dia seguinte e eles estavam montando times, com garotada que estava por ali. Creio que havia, aproximadamente, uns 20. Quatro meninos escolhiam seus jogadores e pra minha surpresa, uma vez que nem estava próximo ao bolinho deles, e, sim no alambrado, o tal Rada me perguntou:“Você joga futebol”? Respondi que jogava e ele perguntou em que posição. Respondi que jogava mais futebol de campo e quase sempre na zaga ou no meio de campo. E no gol? – Disse ele. Respondi que também jogava, mas que em meu time era mais útil na linha, mas que gostava bastante de jogar de goleiro. Fui escolhido pelo Rada e lá fui para o gol.
O tal Rada, que depois soube chamar-se Radamés, era o craque do pedaço.
O resto do time era bem ruinzinho, o que demandou muito trabalho para defender nossa baliza. Consegui realizar uma ótima performance e na frente a bola ia pro Rada e era saco. O cara era mesmo muito bom e me fez lembrar do Geraldo e de suas arrancadas em direção ao gol adversário.
Em 1973, montamos em nossa rua, sempre ela, a Barão do Cerro Azul, o Cerro Futebol Clube, onde jogavam alguns garotos de outras ruas da vizinhança, Vilmar Antônio Bughai, de saudosa memória e que morava na travessa Gabriel Bughay, e, Nivaldo Camargo e Paulo Roberto Rochembach que moravam na 1º de Maio. Paulinho foi o grande craque de nosso Cerro. Falo dele na próxima semana.
Mas foi a bola que nos uniu, mais, especificamente, a bola de futebol.
Pena que Geraldo, Rada e Paulinho nunca jogaram juntos. Fariam um trio fantástico.
Parabéns ao grande amigo, escritor e historiador Derblai. Meus sinceros agradecimentos pela lembrança e carinho. Forte abraço e sucesso sempre em seu lindo trabalho. Geraldo Alberto Sebben