“Sem Novidade no Front” Por: Cineclube Agulheiro 310
“Esta história não é uma acusação, nem uma confissão e muito menos uma aventura, pois morte não é uma aventura para os que estavam cara a cara com ela. Simplesmente tentará contar que uma geração de homens, onde embora eles possam ter escapado da morte, foram destruídos pela guerra”.
Meio século antes de filmes como Apocalypse Now, Platoon e Nascido Para Matar, esse filme demonstrava de forma estupenda a estupidez da guerra.
Vencedor do Oscar de melhor filme, e considerado por muitos como o primeiro grande filme anti-guerra, All Quiet on the Western Front é real e literalmente, com o perdão da frase clichê de sempre: um filme à frente do seu tempo.
Há no filme várias cenas emblemáticas, como o professor, logo no início, tentando convencer os alunos a se alistarem, afirmando que eles seriam heróis honrados lutando pelo seu país, que contrasta com uma das cenas finais, onde um dos jovens alunos (Paul) que se alistou e presenciou o que era uma guerra real vai contra esse discurso de convencimento, afirmando que não há glória em morrer pelo seu país, com as afirmações: “É sujo e doloroso morrer pelo seu país. Quando vier a morrer pelo seu país, será melhor não morrer por nada! Há milhões lá fora que morrem pelos seus países. E o que há de bom nisso?”.
Outra cena marcante é a que esses soldados discutem na beira de um rio o significado e as motivações da guerra, onde um país coloca a culpa no outro, para mostrar superioridade, já que “todo imperador precisa de uma guerra para ficar famoso” ou ocorre uma espécie de febre, que contagia essas pessoas. Porém o mais icônico é a sugestão de um desses soldados de que os governantes, quando sentissem que uma guerra estava se aproximando, deveriam pegar um grande campo, cobrar ingressos de entrada e lutarem com roupas de baixo até terem um país vencedor
Toda essa discussão só demonstra como aqueles homens não se sentiam pertencentes a todas aquelas causas que fizeram os países entrarem em guerra, o que reflete em uma das mensagens do filme de morte em vão, onde esses soldados não são heróis, vivem uma vida de miséria passando fome e inclusive possuem empatia pelos adversários, como na cena em que um dos jovens fica preso em um buraco, enfrenta um “inimigo” e reflete sobre sua morte, indesejada para ele.
Como eu disse no início do texto, “Sem Novidade no Front” é um filme inegavelmente à frente de seu tempo, por debater de uma forma humanista e crítica um tema necessário para a época, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, mas atual até hoje. Além de ser tecnicamente primoroso, com todas as limitações existentes no cinema do início da década de 30, mas que reproduzem muito bem as cenas de enfrentamento, com seus efeitos de bombardeio e as seqüências muito bem realizadas de movimentação da câmera.
No final, ficam várias reflexões e a constatação de que muito mais do que sequelas físicas, esses homens levam sequelas psicológicas para a vida toda. Um clássico do cinema que deveria ser mais conhecido. Na guerra não existem heróis ou covardes, existem mortos, mutilados e neuróticos. Nada de novo no front!
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